Quantas pegadas uma pessoa deixa na terra?
Este texto é uma homenagem a Dona Georgita Angélica de Amorim, que levou uma vida teimosa, pois andou!
Matriarca da Comunidade Quilombola do Camulengo. Dona Georgita faz a sua passagem na segunda-feira, 03 de abril de 2023. Filha, mãe, avó… dinda.
Os nossos sentidos é quem valida a vida do outro, é quem atesta a presença. Entretanto, não podemos dizer que a vida se finda, nem mesmo a física, quando falamos de uma mulher terra, de mãos trilhosas e olhar amoroso. Dona Georgita é parte viva da comunidade, os seus passos jamais serão apagados, os olhos que contemplavam a serra do Camulengo agora podem ser parte do todo nos contemplando.
A força de uma matriarca reside no gesto, na benção curativa das suas mãos…
Veio ao mundo no ano de 1929, contrariou as adversidades, enfrentou a grande seca, e aos 94 anos brilhou iluminando o nosso futuro com os saberes e as preces.
Dona Georgita andou, por ela e por todos que dela surgiram. Foi terra do mais singelo barro ao abrigo planetário e ancestral em que vivemos, foi abrigo e também conselho.
Dona Georgita andou e podemos vislumbrar os seus passos nas palavras de Conceição Evaristo quando diz:
“Foi de mãe esse meio riso
dado para esconder
alegria inteira
e essa fé desconfiada,
pois, quando se anda descalço,
cada dedo olha a estrada.”
Devemos reconhecer esta perda irreparável na mesma medida em que devemos refletir o seu poder, o patrimônio cultural que a sua vida representa. Que toda andança e proseio de Dona Georgita seja celebrado! Uma matriarca semeia cultura e bem viver, que essa passagem se valide da tristeza sem perder o encantamento que é eterno.
Sonhos ancestrais jamais se apagam. E se olharmos para trás, estarão lá, a sua marca, o seu caminho.
O nosso abraço fraterno as comunidades do Camulengo, Ginete e Moitinha, aos familiares e amigos.
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Fotografia: @ronnysouzafotografia